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Educação num novo contexto

“A afetividade, além de ser uma das dimensões da pessoa, é uma das fases mais antigas do desenvolvimento.”

(Dantas)



As emoções e compreensões humanas vão além das especificidades em campos distintos. No contexto educativo, em que há a presença determinante de órgãos deliberativos que constroem o possível e o permitido em tais espaços-tempos, tais emoções precisam estar em consonância. Os laços afetivos primários são os grandes responsáveis pela construção de um ser humano com maior capacidade de ter uma vida emocionalmente estável, condição para bem relacionar-se.


A escola é espaço-tempo de coletividade, onde os conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade são apreendidos pela mediação docente, que utiliza metodologias específicas e uma abordagem didática que, cuidadosamente, considera os saberes-fazeres dos sujeitos envolvidos em prol do aprendizado do coletivo, ampliando sua visão de mundo, de sociedade e impelindo-os a assumir-se eticamente consigo e com o coletivo do cotidiano nos espaços-tempos da escola. Tarefa nada fácil em um terreno de multiplicidade.


Nesse âmbito, cada educador – compreendamos como educador todo aquele que nesse espaço de paredes rebocadas por frio cimento se dedica a estar com/entre parceiros formadores da coletividade heterogênea –, se coloca como mediador nesse minucioso processo que, a olhos leigos, pode parecer simples escolhas permeadas pela individualidade. Assim, cada escolha e, consequentemente, cada ação que se tome nesse contexto implica análise cuidadosa do que se deseja mediar, pois, no contexto escolar, nenhuma ação acontece dissociada de intencionalidade. Há uma missão, um propósito comum e um oceano de possibilidades.


Nesse sentido, não há espaço para egos inflados ou desejos pessoais, mas, sim, laços afetivos entre gestores, professores, funcionários e alunos/as em busca do êxito no processo de ensino-aprendizagem. Laços afetivos regados pelo diálogo e o respeito, dimensões imprescindíveis às relações tecidas no cotidiano escolar pelos diferentes atores. Laços de confiança que vão se entrelaçando e compondo um tecido único, uma unimultiplicidade. Dessarte, família/responsáveis, seduzidos e dispostos, são solicitados a colaborar de forma responsável e madura, com papeis claros e bem definidos.


Os conceitos epistemológicos da aprendizagem são muitos e vão desde a teoria piagetiana da inteligência à teoria psicanalítica de Freud. O afeto no ambiente escolar não está somente no ato de carinho, como abraçar ou beijar o aluno como cumprimento de sua chegada ao recinto. Há que se considerar o olhar confiante da equipe gestora, que proporciona segurança e equilíbrio nas relações constituídas entre os diferentes sujeitos. As condições externas são adquiridas pelo estímulo dado pelo meio em que o sujeito está inserido e as internas são definidas pelo sujeito, ou o corpo como mediador da ação. Na formação da linguagem afetiva em comum ocorrerá o encontro da equipe gestora com o aluno para criação conceitual. Poder-se-á iniciar toda a aprendizagem a partir de um gesto imposto pelo gosto, pelo amor, na qual as necessidades de afeto, vinculadas às do conhecimento determinem as obrigações.


“O aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer.” (Vigotsky, 1987:101).


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O pensamento é gerado pela motivação, isto é, por nossos desejos e necessidades, nossos interesses e emoções. O aluno recém matriculado necessita ser integrado à convivência com todos os sujeitos que compõem a escola. Para ele, tudo é novo, tudo é diferente, o ambiente ainda não é familiar. É um misto de ansiedade, incertezas e muitas expectativas. Essas questões impactam diretamente no processo de ensino-aprendizagem, exigindo da escola sensibilidade, abertura e acolhimento.


No atual contexto, diga-se, em que o distanciamento fez-se necessário antes mesmo que os laços estivessem fortemente estabelecidos, onde as escolas públicas desencontram-se das evoluções tecnológicas indispensáveis aos dias atuais, cuja luta pela apropriação e manuseio se arrasta por décadas, é desumano tratar da aprendizagem dos/as alunos/alunas mediante a consciência de que agora, a escola, colabora com um processo cruel de exclusão. Pensar como escola é pensar como uma grande família em que não podemos oferecer o pão para alguns e deixar com fome os outros.


Mulheres e homens, somos os únicos seres que, social e historicamente, nos tornamos capazes de apreender. Por isso, somos os únicos em quem aprender é uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, mais rico do que meramente repetir a lição dada. Aprender para nós é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura do espírito. (FREIRE, 1996, p.69)

O indivíduo adquire conhecimento à medida que se torna sujeito ativo, emancipado, condição possível a partir da aprendizagem passo a passo construída na interação do indivíduo com os outros e com meio.


A aprendizagem tem assim uma função integradora, estando diretamente relacionada ao desenvolvimento psicológico, denotando as possibilidades de interação e adaptação da pessoa à realidade ao longo da vida, sofrendo múltiplas influências de fatores ambientais e individuais. (PORTO, 2011, p. 40).

O indivíduo é uma pequena parte de um todo no universo. Nesse caso, educar o indivíduo enquanto sujeito consciente do seu lugar no universo é considerá-lo na sua totalidade, ou seja, o educar integra o afetivo ao cognitivo.


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A EMEF MINISTRO PETRÔNIO PORTELLA tem responsabilidade com seus 785 alunos. Estamos buscando, com o mesmo compromisso que sempre permeou cada ação nos dias presenciais, construir formas de efetivação de nossa missão, nos instrumentalizando do que nos é permitido por lei e naquilo que nos é possível realizar. Não há como segregar a realidade escolar da realidade do mundo vivenciada pelos/as alunos/as e os demais compositores. Estamos todos aprendendo, ou melhor, reaprendendo.


Você está convidado a aprender/reaprender também!


Por Elizabeth Mendel

Diretora



Referências

ANTUNES, Celso. A linguagem do afeto: como ensinar virtudes e valores. 3. ed. Campinas, SP: Papirus, 2006.

BARBOSA, Laura Monte Serrat. A psicopedagogia no âmbito da instituição escolar.

Curitiba: Expoente, 2001.

BATTRO, Antonio M. O pensamento de Jean Piaget. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1976.

BOCK, Ana Maria Bahia et al. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva,1999.

CAVALCANTE, Meire. Como criar uma escola acolhedora. Nova Escola. São Paulo: Abril, nº. 180, p. 52-57, março de 2005.

COSTA, Maria Luiza Andreozzi da. Piaget e a intervenção psicopedagógica. São Paulo: Olho d’água, 2002.

FREITAS, Nilson Guedes de. Pedagogia do Amor: Caminho da Libertação na relação professor aluno. 2ª ed. Rio de Janeiro: WAK, 2000.

GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Petrópolis RJ: Vozes, 1995.

LA TAILLE, Yves; OLIVEIRA, Marta Kohl de; DANTAS; Heloysa. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: SUMMUS, 1992.

MAHONEY, Abigail Alvarenga; ALMEIDA, Laurinda Ramalho de. Afetividade e aprendizagem. São Paulo: Duetto, 2006.

REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

SALVADOR, César Coll et al. Psicologia do ensino. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

 
 
 

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